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Maré solta da baía de Guanabara 

Foto do escritor: P. PontesP. Pontes


Na maré solta da baía de Guanabara eu sentia a areia se espalhar na sola do meu pé descalço que beijava a orla da praia.

Meu pé e a areia tinham um caso de amor, igual história de pescador.

Chegava cedo pra sentir o sol nascer por entre as pernas da Gaia Terra, era um parto lindo de se ver.

Quando ele chegava, ao invés de chorar, ele brilhava; intenso como ouro gasoso...

Como eu entendia isso!

Meu pé e a areia tão juntos que ficavam, igual jovens namorados, quase nunca se largavam.

Quando fecho os olhos vejo as luzes do além tempo, elas atravessam minhas pálpebras travessas.

Quando nada faz barulho, consigo ouvir a frequência que tem o som do silêncio, ele faz imagens nascerem do nada.

Ainda penso na insistência dos pássaros em cantarem, mesmo quando ninguém pára para escutar a voz deles.

Isso sim é persistência, mas um pensamento solto me disse que eles não cantam pra nós e que nem somos tão importantes assim...

Talvez se atentarmos um pouco, vamos perceber os fatos...

As coisas mais importantes são como casos de amor, entre o pé e a areia, entre o pescador e a sereia, entre a vida que ama a morte; mas nunca pode abraçá-la sem desfalecer de amores.

Contaram-me uma vez, que a terra era viva debaixo do nosso pé, e que ela podia sentir cada pessoa que pisava ela, sabia até o nosso nome...

Também me disseram que eu podia fazer o que quissesse comigo mesmo, sem me preocupar com ninguém...

Esqueceram os nomes das cores, esqueceram que elas têm personalidade e gênio forte, esqueceram também de apagar a luz e saudar a escuridão.

Costumam pensar que tudo que é escuro vem de algo ruim. Um dia a escuridão também me contou várias coisas. Ela disse que sem ela, não é possível pensar melhor.

Enquanto costuro os retalhos de pensamento da minha cabeça, com a agulha que roubei da fúria, penso que pertenço a lugar nenhum.

As vezes deixar o mundo pra trás pode assustar no começo, mas despois você percebe que desde o começo, era só tudo e você.

Desde já eu agradeço à maré solta da baía de Guanabara, que me jogou aquela maracutaia vinda das ondas do mar. Axé!

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